Notícia n. 565 - Boletim Eletrônico IRIB / Abril de 1999 / Nº 69 - 29/04/1999
Tipo de publicação
Notícia
Coleções
Edição
69
Date
1999Período
Abril
Description
TODOS OS NOMES Mauro Dias - São boas senhoras, doces e prestativas, as duas irmãs, escrevedoras de cartas, escrevinhadoras, como a personagem do filme. Andam ali pelos 60 e tantos, Guertrudes Estáin Medrado e Virgínia Volfe Medrado. "Só nomes de mulheres fortes", explicava Áureos Tempos Medrado, o pai. A área de interesse paterna mudou com o tempo, como indicam os nomes das duas caçulas, Rita Reiórti e Brigite Bardô Medrado. Áureos Tempos chamava-se assim por filho de saudosista, preto forro que lavrou fazendinha, mudou para a cidade e perdeu tudo. Quando morreu, deixou as filhas e as dívidas aos cuidados do irmão, Napoleão Bonaparte. As duas moças mais velhas ficaram para tias. Brigite Bardô acrescentou-se um sobrenome: Trafalgar. Num dezembro excepcionalmente quente, casou-se com João Baptista Trafalgar, ela de véu e grinalda, ele de terno preto e gravatinha-borboleta. João Baptista não pertencia a nenhuma família Trafalgar, a bem da verdade. Foi encontrado, mulatinho raquítico, com dias de nascido, na porta do convento das Madalenas, no dia de São João Batista. Herdou o nome do santo. O "p" que se insinua no Baptista foi capricho da madre superiora, Flodamor de Marilu Castanhede, aliás, Irmão Letícia. O Trafalgar, como começava a dizer e disgredi, sugeriu-o o funcionário do Cartório de Registro Civil, Rômbico Beleza Corrêa, irmão de Graciosa Rodela Corrêa, gente lá do interior do Estado do Rio de Janeiro, coisa de Campos, talvez Bom Jardim, posso estar confundindo. Doutor Rômbico Beleza, que fazia questão do doutor, ex-suplente de vereador e conselheiro especial da prefeitura, cargo informal, havia recebido herança com a qual fora conhecer a Europa, apaixonando-se por praças - Pigalle, Rossio, Trafalgar. João Baptista e Brigite Bardô Medrado Trafalgar criaram quatro filhos, a saber, em ordem decrescente de idade: Primeira Maria, Sérgio Segundo, Eduardo Trino e Quintino Joaquim. Entre Quintino e Trino houve Regina das Cinzas, que morreu de tifo, tétano e difteria, por falta de vacina, o que valeu foi que tinham outros e tiveram mais um. Formavam, em que pese a desgraça, uma vida feliz, coisa que não se deu com Rita Reiórti. Era, das quatro irmãs, a mais bela, de cabelos anelados, lábios suculentos e porte de gazela. Despertou, ainda ginasiana, a lubricidade dos gêmeos Francisco Serafim e Serafim Francisco. Na moedinha, escolheu um para namorar. Mas foi como se a moeda caísse de pé: Rita nunca soube com qual dos dois estava. Quando engravidou, Rita escondeu-se na casa da prima Basilar Medrado Campânula, Dona Bá, na tranqüila localidade de Seropédica, ao pé da Serra das Araras. A tecedeira de anjos cuidou dos procedimentos. Rita empregou-se num armarinho em Quintino Bocaiúva, onde conheceu Recidelindo Pereira Lomba, homem bom que a teria acolhido se não fosse então e até hoje apaixonado por uma das irmãs Castro Faria. Rita Reiórti, entretanto, não se livrou do amor. Apaixonada, consultou damas de terreiro e cartomantes, como convém, e numa das consultas conheceu Fúcsio Apamerindos Antão, sujeito de muita fala e pouco fazer, mas são cegos os amores. Amasiaram-se numa casinhola que fazia parede-meia com o lar das irmãs (adotivas) Celma Eponina e Célia Idem, percebe-se aqui, mais uma vez, o dedo e a vontade do tabelião peripatético. Dona Pôpa e Dona Dedé gostavam muito de Rita. Quanto Fúcsio saía, madrugada alta, com a desculpa de observar fenômenos cosmológicos, as duas batiam na porta. Aconselhavam a moça: homem assim não serve, você deveria conhecer o Ralovardo, nosso irmão (de criação), que anda procurando moça de bom porte e boa índole para constituir família. Ralovardo, Reverêncio e Ricastelo eram filhos do português Estrôncio Magnésio Bisbim, sobrenome que parece coisa de cristão-novo. Seu Estrôncio morreu de mal súbito, quando pesava a manteiga para Dona Cocotinha, ninguém nunca soube de onde vinha o diminutivo. Foi Dona Cocotinha, hoje falecida, quem batizou e criou Dona Pôpa e Dona Dedé. De mão em mão - porque outras ofertas foram feitas e aceitas -, a bela Rita Reiórti dividiu cama e mesa com outra dúzia de sujeitos de todos os tipos, entre eles Duílio Arribação Mentra, Sorocabano Cascatinha, Suiterrart Armando Tortelli. Um dia pousou o circo em frente da estação do trem e Rita pegou o primeiro expresso, levando consigo o engolidor de fogos e espadas Lourival Maércio Lau. Nunca mais deu notícias. Seu sumiço é um dos motivos pelos quais Guertrudes Estáin e Virgínia Volfe são escrevinhadoras. Um dia, quem sabe... (Estão, Quinta-feira, 29 de abril de 1999)
Direitos
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Article Number
565
Idioma
pt_BR