Notícia n. 3400 - Boletim Eletrônico IRIB / Fevereiro de 2002 / Nº 441 - 19/02/2002
Tipo de publicação
Notícia
Coleções
Edição
441
Date
2002Período
Fevereiro
Description
Grilagem de títulos na idade média - Pesquisador descobre títulos falsificados dos Reis Merovíngios - J.Philips, UFSC Florianópolis - Os documentos dos Reis Merovíngios são testemunhos importantes sobre a história do início da época medieval européia. São conhecidos 196 textos, dos quais 38 são originais e o restante cópias. O Professor Theo Kölzer, historiador na Universidade de Bonn, publicou um retrato das suas pesquisas, de cerca de 20 anos, em uma edição de quase 1000 páginas sobre estes documentos históricos. Resultado: dois terços dos documentos são falsificados. Os fraudadores, padres dos conventos medievais, usaram um método muito inteligente. Eles colaram dois documentos de papiro, que na época já eram antigos, face a face para criar uma nova folha com frente e verso em branco. Nestas folhas vazias anotaram, em latim oficial, direitos que aparentemente teriam sido concedidos pelo rei que vivera há 400 anos antes. O resultado mostrou, à primeira vista, um documento autêntico de um notário real da época dos Merovíngios. Na metade do século 19 separaram-se as partes coladas, mas sempre ficaram marcas das tintas usadas na outra parte do documento e depois as partes separadas foram arquivadas em bibliotecas distintas. O Professor Kölzer encontrou, faz dois anos, um daqueles documentos dos Merovíngios onde faltavam grandes partes do texto. No mesmo momento, um historiador francês descobriu um outro documento de outra época com texto que ele classificou como sendo pertencente aos Merovíngios. Para confirmar sua teoria, o pesquisador francês mandou uma cópia do texto ao colega em Bonn, que é especialista em história germânica dos Franco-Merovíngios. "Foi um caso de muita sorte", Kölzer avalia hoje. Ele percebeu rapidamente, que o texto achado pelo colega francês era exatamente aquele que faltou no seu "próprio" documento. Com os métodos da fotografia digital criou-se no computador um novo documento "virtual", usando-se imagens das duas partes do mesmo original. Assim, conseguiu-se reconstituir o mais velho documento real desta fase da história germânica pós-romana. O historiador de Bonn pesquisa os documentos dos reis franco-merovíngios (aproximadamente 450 - 751 d.c.), que são os antecessores dos Carolíngios. Estes documentos eram lavrados geralmente para ceder direitos ou fazer doações por parte do Rei. Muitos destes documentos são usados como títulos originários para comprovar propriedade ou privilégios a favor da igreja ou dos conventos. Assim, estes documentos conservam até os dias de hoje sua importância legal e econômica. O Prof. Kölzer comenta em sua publicação sobre todos os 196 documentos dos Merovíngios, dos quais dois terços devem ser qualificados como falsos. Não restam duvidas sobre a autenticidade de apenas 38 documentos, que são seguramente originais da época. "Estes documentos são importantes fósseis para a transição do fim da idade antiga para a Idade Média", explica Kölzer. Na fase final da época romana existia uma perfeita administração dos assuntos públicos, que registrava os títulos do indivíduo e dava uma perfeita proteção a seus direitos. A partir do fim da administração romana, era necessário que o próprio titular dos direitos arquivasse seus documentos em lugar seguro. Os documentos encontrados, pertencentes aos Merovíngios, documentam bem essa transição através da época da sua criação e do lugar em que foram encontrados. Ao mais tardar, aproximadamente em 600 d.C., terminou a Idade Antiga na região norte dos Alpes e começou a Idade Media. Mas o que fazer se algum convento não conseguisse documentar e comprovar determinados direitos do qual seria titular? Nestes casos, os interessados (conventos) muitas vezes "produziam" o documento que faltava, que era uma forma medieval européia da grilagem, que muitos apressadamente identificam como invenção genuinamente brasileira... "Desde o século XII não há mais reconhecimento público de propriedade sem documento autenticado", anota Kölzer. Os fraudadores usavam muitas vezes um vocabulário diferente da época dos Merovíngios. Kölzer aprendeu a desconfiar da autenticidade de um determinado documento apenas por conter um termo estranho ou por encontrar depois outros índices para identificar e comprovar o texto como falso. Os fraudadores nem sempre trabalharam com muito rigor. Às vezes bastava confrontar o texto com fatos seguros de conhecimento histórico. Kölzer: "Em alguns casos, o documento foi assinado por um rei que já tinha falecido anos antes da data da escrituração." Theo Kölzer: Monumenta Germaniae Historica, Diplomata regum Francorum e stirpe Merovingica, 2 volumes, Hannover 2001, XXXIV + 965 pag. + 8 tábuas, DM 280,-- (€ 143,16). Mais informações de : Prof. Dr. Theo Kölzer, Seminário de História da Universidade de Bonn, Tel.: 0049 228-73-5167, E-Mail: [email protected]
Direitos
IRIB – Instituto de Registro Imobiliário do Brasil
Article Number
3400
Idioma
pt_BR