Notícia n. 5936 - Boletim Eletrônico IRIB / Maio de 2004 / Nº 1133 - 13/05/2004
Tipo de publicação
Notícia
Coleções
Edição
1133
Date
2004Período
Maio
Description
GAZETA DO POVO – 11/4/2004 - Memória - Primeiro Tabelionato de Curitiba guarda informações sobre o estilo de vida do Brasil Colônia. A história registrada em cartório Órgão foi criado em 1694 e já tem mais de 230 mil inscrições em 600 livros Mauri König Você aceitaria receber seis éguas como pagamento de juros pelo empréstimo de uma quantia em dinheiro? Talvez ninguém mais aceite um negócio assim, mas esse tipo de comércio já foi muito comum para o agiota curitibano João Martins Leme. Tudo devidamente registrado em cartório. E com direito a testemunhas! Está na folha 9 do livro 2 do primeiro cartório de Curitiba. No ano de 1715, João fez um empréstimo de 200 mil réis e recebeu seis éguas como compensação pelos juros. O episódio inusitado para os padrões atuais foi um dos primeiros registros oficiais daquela que seria a capital do Paraná. Algumas centenas de relíquias históricas iguais a essa, além de contratos de compra e venda de escravos, registro de dote para casamento e outros fatos curiosos do Brasil Colônia estão registrados nos 600 livros do 1o Tabelionato de Notas de Curitiba, criado em 1694. O primeiro livro desapareceu há mais de 50 anos, mas os demais, com registros até 1979, estão guardados no cofre de uma empresa de segurança cercados de cuidados para protegê-los também de traças e cupins. Eles revelam os costumes nos primeiros anos de vida da Vila de Nossa Senhora da Luz dos Pinhais. O cartório surgiu para dar mais garantia e valor legal aos negócios até então assegurados pelo "fio do bigode". A expressão é tão machista quanto a sociedade da época. Nomes de mulher, quando surgiam em algum contrato, geralmente estavam relacionados a uma condição de submissão, seja como escrava ou como filha oferecida pelo pai em casamento. Em 1719, por exemplo, Luiz Roiz Mello vendeu a negra Maria para seu filho, Sebastião Roiz Dacunha. Os escravocratas ostentavam nome e sobrenome, já os escravos sequer tinham registro de nascimento. Mas os documentos cartorários traziam também boas notícias para os negros. Uma escritura pública, na folha 64 do livro 27, dá conta que o capitão-mor José Carneiro dos Santos foi à Vila de Curitiba, em 21 de agosto de 1802, para registrar uma carta de alforria em favor do “mulatinho” Manoel, filho da escrava Ana. Eles não eram muitos, se comparados ao restante do Brasil, porque chegavam com preço muito alto. Em 1776 havia 2.505 escravos no Paraná, 2.098 deles já livres. Em 1800, somavam 6.658, dos quais 5.470 libertos. Parte dessas cartas de alforria está registrada no primeiro cartório de Curitiba, criado no mesmo ano em que instalou-se a primeira Casa da Moeda do Brasil, em Salvador. O tabelião Luiz Marcelo Giovannetti calcula que seus livros guardam algo em torno de 230 mil registros feitos ao longo de 310 anos. Com o sumiço do primeiro volume, o registro oficial mais antigo de que se tem notícias é um contrato de compra e venda de terras, realizado em 1712 pelo casal Baltazar Vaz Leme e Maria da Candelária, passando o imóvel para o capitão Manoel Thomas da Costa. São documentos escritos com bico-de-pena. Em muitos deles, a tinta começa a desaparecer, obrigando os funcionários do tabelionato a contornar a esmerada caligrafia com grafite, para manter a história escrita. A Universidade Federal do Paraná (UFPR) iniciou há poucas semanas um trabalho de digitalização desses documentos para preservá-los e facilitar o acesso de pesquisadores. O material fará parte do acervo do departamento de História da UFPR. (Gazeta do Povo/PR, seção Paraná, 11/4/2004, p.16).
Direitos
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Article Number
5936
Idioma
pt_BR