Notícia n. 7233 - Boletim Eletrônico IRIB / Março de 2005 / Nº 1586 - 04/03/2005
Tipo de publicação
Notícia
Coleções
Edição
1586
Date
2005Período
Março
Description
JORNAL VALOR – 2/3/2005 Crédito: Instituição afirma que troca de informações sobre devedores ajudaria a baixar o risco. Justiça lenta eleva spread, diz HSBC - A dificuldade na recuperação dos empréstimos inadimplentes por parte dos bancos e os custos fiscais elevados foram duas razões apontadas ontem por altos executivos do HSBC Holdings para justificar os altos spreads embutidos nas taxas de juros no Brasil. Em entrevista para jornalistas brasileiros, na sede do banco, em Londres, eles afirmaram que um sistema judicial mais ágil e uma troca maior de “informações positivas” sobre os tomadores de crédito entre as principais instituições financeiras poderiam contribuir na redução desses spreads. “A nossa experiência no mundo todo diz que, quanto mais leniente é um regime de falências, mais alta a quantidade de empréstimos que temos de declarar como perdas”, afirmou Sir John Bond, presidente do conselho (chairman) do HSBC Holdings, o maior banco da Europa em valor de mercado. “A recuperação dos empréstimos inadimplentes não é uma tarefa fácil no Brasil. A realidade é que você tem de considerá-los como perdas e o bom pagador é que paga pelo mau pagador”, disse Michael Geoghegan, que foi presidente do HSBC Bank Brasil por sete anos e hoje dirige o banco no Reino Unido. Segundo Geoghegan, as margens de spread são um reflexo do que os bancos precisam ganhar para satisfazer o seu acionista. Elas são impactadas pela qualidade do crédito e pela possibilidade de recuperação desse crédito, inclusive na Justiça. Para ele, um sistema judicial mais ágil atrairia mais bancos para a realização de empréstimos, aumentando a competição entre os participantes do mercado brasileiro de crédito e reduzindo spreads. “A melhor forma de reduzir margens é por meio da competição”, disse, para completar que “os impostos, a taxação direta de produtos ampliam os custos e elevam os spreads”. Geoghegan disse que a reforma do sistema judiciário no Brasil é bem-vinda, assim como a nova Lei de Falências. Mas destacou que “a implementação dessas mudanças é o mais importante” e, por isso, ainda é cedo para fazer previsões. “Nós temos de esperar para ver se o sistema vai realmente chegar onde ele almeja chegar”, afirmou Geoghegan. O HSBC vem ganhando posição cada vez de maior destaque no crédito ao consumidor no Brasil, principalmente após a aquisição dos ativos do Lloyds TSB, em dezembro de 2003, entre eles a financeira Losango. Após a compra da CrediMatone e da Valeu, no ano passado, as financeiras do HSBC passaram a ter 17,5 milhões de clientes. Hoje, o HSBC é o sétimo maior banco no Brasil. Para Georghegan, o compartilhamento de informações entre os bancos sobre os devedores, o que ele chamou de “informação positiva”, poderia ajudar na tomada de decisões de crédito por parte das instituições, reduzindo o risco. “Dessa forma, uma mesma pessoa não toma linhas de crédito nos mais diferentes bancos e, se fizer isso, os bancos ficam sabendo”, afirmou. Segundo ele, os bancos tomam decisões baseadas em informações e quanto mais souberem sobre um possível tomador, mais acertadas serão essas decisões. “Os bancos passam a saber quanto você ganha, quanto você gasta”, disse. Segundo ele, esse é um processo que está apenas começando no próprio Reino Unido. Apesar dos spreads maiores, o retorno sobre o capital investido no Brasil pelo HSBC não é muito superior à média do grupo em todo o mundo, disse Bond. Em 2004, o retorno médio sobre o capital dos acionistas do HSBC Holding foi de 14,4% e estima-se que no Brasil esse retorno tenha ficado cerca de cinco pontos percentuais acima. Geoghegan acredita que a ampliação do crédito com desconto em folha de pagamento promoveu uma mudança “dramática” no Brasil, reduzindo o spread médio. “O produto tem um risco reduzido e por isso tem uma margem bem mais baixa”, disse. O executivo afirmou que o banco está feliz com os negócios no Brasil. “Ao divulgar o balanço, Sir John Bond mencionou a Losango como uma estrela em nossa corporação em uma base global”, afirmou. A Losango e a americana Household, adquirida em março de 2003, estão trocando informações e técnicas constantemente, disse. Os dois executivos fizeram questão de frisar que a idéia é crescer o banco no Brasil, inicialmente de forma orgânica. “Eu acho que somos o único banco com agências que trabalham com horários diferentes no Brasil e vamos continuar a fazer nos nossos ativos fixos trabalharem mais duramente para nós”, afirmou. No entanto, se oportunidades de compra surgirem, elas serão aproveitadas, disseram os dois executivos. Para tanto, não faltará capital. “Isso é o que os nossos acionistas pagam nossos executivos para fazer: observar boas oportunidades”, afirmou Sir John Bond. Segundo o bem-humorado banqueiro, “nós admiramos qualquer um que ganhe de nós regularmente nos jogos de futebol”. Segundo Geoghegan, o Brasil ainda carece de um mercado de capitais forte. “Isso é que os mercados emergentes, os países em desenvolvimento realmente precisam: de investidores para ingressar no país e ajudar a financiar sua economia”, disse. Ele afirma que o HSBC ajudou inúmeros países asiáticos nessa tarefa e poderia contribuir para o debate no Brasil. A construção de um mercado interno forte, em reais, é um processo gradual de construção de confiança, disse. “O Brasil conseguiu essa confiança e agora precisa se mover para o próximo estágio de desenvolvimento do mercado”, continuou. Para ele, um movimento livre de capitais é fundamental para o desenvolvimento desse mercado interno. Sir John Bond, que tem viagem marcada para o Brasil em setembro próximo, ainda não perdeu a esperança de se encontrar com o presidente Lula. “Eu já disse para vocês e vou repetir que eu acho que ele é um dos mais interessantes políticos no mundo hoje e que sinceramente espero ter a oportunidade de encontrá-lo um dia”. No entanto, no seu entender, esse encontro não aconteceu ainda porque “Lula é um homem ocupado, que tem coisas mais importantes a fazer. Eu sou um simples banqueiro”. Segundo o chairman do HSBC, há uma tendência em todos os mercados nos quais o banco atua de fusão entre empresas de financiamento ao consumidor e bancos comerciais. “Ha 10 anos, havia 13 empresas de crédito ao consumidor nos Estados Unidos. Hoje, não há virtualmente nenhuma, de nenhum tamanho”, afirmou. “O que acontece no Brasil é um processo natural”, completou. Para Sir John Bond, esse processo de fusão torna a intermediação financeira mais eficiente. Antes, comentou, você tinha os depósitos nos bancos e os financiamentos ao consumidor nas financeiras. Com os recursos dos depósitos, os bancos emprestavam no atacado para as financeiras, que por sua vez emprestavam ao consumidor. “Você tinha dois níveis de intermediação financeira quando você só precisa realmente de um”, comentou o banqueiro. Repórter Cristiane Perini Lucchesi (Jornal Valor - Finanças – 2/3/2005 – p. C1)
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